O Brasil figura entre os países com maior número de processos judiciais no mundo. São milhões de ações em tramitação, abarrotando tribunais e gerando morosidade nas decisões. Esse fenômeno, conhecido como judicialização, não deve ser interpretado apenas como excesso de litígios ou busca desenfreada pelo Judiciário. Muitas vezes, ele é consequência direta da ausência de diálogo e da falta de respostas na esfera administrativa.
Na prática, muitas demandas poderiam ser resolvidas com um simples esforço de comunicação. Tomemos como exemplo a relação entre entidades filantrópicas e municípios. Em diversas situações, a entidade não encontra respostas efetivas na esfera administrativa: processos ficam parados, decisões são postergadas indefinidamente e o diálogo é substituído pelo silêncio institucional. Sem canais eficazes de entendimento, resta apenas ao particular recorrer ao Judiciário. O que deveria ser parceria em prol do interesse público transforma-se em embate judicial.
Esse cenário revela uma distorção grave: a judicialização, nesses casos, não nasce da vontade de litigar, mas da necessidade de provocar uma decisão que deveria ter ocorrido no âmbito administrativo. Quando o poder público deixa de decidir, de responder ou de construir pontes de entendimento, cria-se um vácuo que só o Judiciário pode preencher.
O fenômeno se repete em outras áreas: consumidores que não conseguem solucionar problemas em canais de atendimento; trabalhadores que não encontram espaço para negociação; famílias que não conseguem mediar suas diferenças. Em comum, está sempre a mesma raiz: a falta de diálogo e a incapacidade de se alcançar o consenso antes do litígio.
É nesse ponto que se impõe a reflexão: o Judiciário é essencial, mas não deve ser a primeira porta a ser aberta. Antes dele, há sempre espaço para o diálogo. Se a esfera administrativa ou as partes envolvidas não cumprem esse papel, o processo judicial se torna inevitável — mas não por escolha, e sim por falta de alternativa.
Assim, reduzir a judicialização não depende apenas de reformas legislativas ou de campanhas institucionais. Depende de uma mudança cultural, em que a comunicação, a transparência e a disposição para ouvir sejam valorizadas. Quanto mais cedo houver uma resposta administrativa clara e responsável, menor será a necessidade de buscar uma resposta judicial.